A Guerra Espiritual – COVID-19 (última parte)
—Que lugar agradável!
—Sim sinhô! É muito gostoso caminhar nesta estrada.
Eu e o João da Porteira estávamos caminhando, naquela que antigamente era a entrada da maior fazenda daquela região. Era uma enorme fazenda de café, era conhecida como fazenda Pinheirão.
Logo após a porteira, a estrada de terra batida era cercada por enormes mangueiras, era quase um quilômetro de estrada toda cercada pelas arvores.
As copas das arvores se encontravam e todo aquele caminho era protegido da luz solar, a sombra das enormes mangueiras, a terra úmida e o perfume do mato me deixavam relaxado e apegado a minhas lembranças.
Quando era criança vinha com os amigos, pescar e pegar algumas mangas para levar para casa. Naquela época as arvores ainda eram menores, embora já imponentes; derrubávamos as frutas com uma enorme vara de bambu, que também era abundante naquela região; o bambuzal ficava próximo ao riacho.
Algumas mangas eram saboreadas ali mesmo, eram limpas na camiseta e a casca arrancada nos dentes.
Ficávamos todos lambuzados de tanto chupar as mangas. Íamos caminhando até chegar perto riacho, que ficava na descida da estrada, onde tínhamos oportunidade de lavarmos a boca, as mãos e beber um pouco daquela água fresquinha, para em seguida iniciarmos a pescaria.
A pescaria só terminava quando a tarde chegava e tínhamos pescados alguns lambaris e tilápias, a pesca era sempre muito boa ali naquele trecho do rio.
Tinha também uma pinguela, feita com um tronco muito velho, que ligava uma margem a outra e era usada como um trampolim, de onde nos jogávamos dentro do rio.
Era uma verdadeira competição entre os garotos, para ver quem dava o salto mais distante, mais perigoso ou diferente dos demais. Era uma verdadeira festa!
—João? Ainda existe a fazendo do Pinheirão?
—Não, sinhô! Já faz tempo que acabaram com tudo.
—O velho morreu e os filhos não tinham paciência para lidar com o tempo da natureza, queriam dinheiro rápido, então dividiram e venderam a fazenda em vários lotes e sítios.
—Foi tudo dividido, agora tem até um loteamento popular, com muitas casas, naquela região mais distante. Mas o povo que mora lá também não quer saber de nada, não! É tudo gente estranha que veio de fora.
—Só querem ter celular e estas coisas modernas que eu nem conheço, vivem reclamando que não tem nem o que comer, reclamam de tudo e de todos, mas trabalhar que é bom, ninguém vai não!!
— No meu tempo era diferente! Não é não sinhô?
— É João da Porteira, infelizmente o mundo mudou muito.
— Mas, João eu tenho muita coisa para conversar com você!
— As suas ordens, sinhô!
— Você sabe que eu gosto muito de conversar com você, principalmente estas coisas de espiritismo, da umbanda. A gente vai conversar muito sobre isso.
— Você tem muita experiência de vida, e eu gosto muito de aprender sempre com os mais velhos!
—Mas, eu sei que o sinhô, também é um estudioso do assunto, eu também aprendo muito com o sinhô.
—Obrigado João, a gente está sempre aprendendo.
—Eu sei que você desde pequeno já vivia na Umbanda, não é João?
—Sim, sinhô! Eu ia com minha falecida mãe, lá na casa da Dona Sebastiana, que na época era da mãe dela, olha que isso já faz muito tempo.
— Mas tem uma coisa que eu quero te perguntar, e prometo que é a última vez que falo neste assunto do COVID.
— Pode falar!
— Na nossa última conversa a gente estava falando sobre as orientações do Guardião Zé dos Caminhos, você se lembra?
— Era uma explicação espiritual sobre a pandemia, sobre uma rebelião dos espíritos negativos sobre a humanidade.
— Sim, sinhô!
— Você comentou que o planeta estava passando por profundas transformações, e estas transformações estavam sendo comandadas pelas hierarquias espirituais vinculadas ao reino das mulheres, das mães, de Iemanjá.
— E que houve uma rebelião daqueles espíritos negativos que estavam apegados aos vícios e ao planeta, para que não houvesse esta transformação profunda que foi planejada pelo astral.
Sim, sinhô! É isso mesmo!
—No final da nossa conversa, eu achei que tudo estava indo bem, e que logo tudo voltaria ao normal. Mas você me deixou preocupado, com seus comentários.
—Você me disse que não tinha muita certeza sobre isso e que a história ainda não tinha terminado e que tinha alguma outra coisa para me contar.
—Você pode concluir essa história? As coisas vão melhorar, esta pandemia vai acabar ou não?
—Posso sim, sinhô! Mas não esquece que esta conversa toda foi contada pelo Guardião Zé dos Caminhos.
—Eu sei João! Conte-me tudo então.
— Olha, o Guardião alertou a gente que era preciso muita fé e perseverança, porque toda mudança sempre traz alguma consequência e nem todo mundo aceita as mudanças. Disse que estamos vivendo uma guerra espiritual.
—Disse ele que tem muita gente, que neste momento vive desorientada, sem rumo, presa aos preconceitos e em crenças que são alimentadas por estes espíritos atrasados.
—Disse o Guardião que muitas pessoas estão acomodadas, presas somente a interesses do mundo material e que estas mudanças espirituais positivas poderão provocar desentendimentos entre as pessoas.
— As forças negativas sempre existiram em nosso planeta, conforme eu já falei para o sinhô, mas ultimamente se fortaleceram. Elas serão neutralizadas pela espiritualidade superior, mas será preciso que os espíritos encarnados, a humanidade faça sua parte.
—As pessoas devem se livrar de pensamentos mesquinhos e preconceituosos, excesso de orgulho e vaidade, inveja e ciúmes, ambição desenfreada e segundo o guardião ultimamente este tipo de sentimentos é o que mais predomina.
— O materialismo está adoecendo e matando as pessoas, tanto quanto a COVID.
— Também falou que os seres trevosos estão estimulando muito a divisão entre as pessoas, não querem que as pessoas se unam. Que este movimento de jogar um contra o outro é para dividir e criar a revolta e o desentendimento entre as pessoas.
— Foi por isso que eu falei para o sinhô que estava preocupado! A doença vai acabar assim que os homens dominarem a técnica de um remédio ou vacina, mas este sentimento de divisão entre brancos e negros, homens e mulheres, ricos e pobres vai gerar cada dia mais desentendimento, divisão e o domínio das trevas sobre a humanidade.
—O sinhô entendeu?
—Sim, agora entendi!
— Sabe sinhô! Eu rezo toda a noite para minha mãezinha Nossa Senhora da Conceição. Para que ela ilumine as ideias destas pessoas, para que elas entendam que somos todos humanos, que ninguém é diferente de ninguém, que somos todos irmãos e vivemos todos na mesma casa, neste planeta maravilhoso, que devíamos todos dar as mãos e cuidarmos desta casa linda que o pai nos deu para viver.
— Eu tenho esperança e fé que ainda vou viver pra ver isso acontecer.
—O sinhô não acha?
— Acho sim João!
Olhei para aquele homem magro e velho caminhando firme ao meu lado e senti que meus olhos se encheram de lágrimas…
São Vicente, 08/09/2020
Manoel Lopes
Obs.:Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.