Do canto das Iabás, renasce uma nova morada

Estamos na época do Carnaval e todo ano uma escola apresenta um samba-enredo tratando da temática das religiões afro-brasileiras.

Neste texto vamos registrar o samba-enredo da Mocidade Alegre, de São Paulo, que apresentou o samba “DO CANTO DAS YABÁS, RENASCE UMA NOVA MORADA.”

Segue a letra:

“Olorum, supremo criador do universo
Seus olhos sofrem com meus gestos
Oh, meu Senhor
Agô, meu Pai Maior… tanto caos, destruição
No Aiyê, o tambor vai ecoar
É preciso acreditar na grandeza de Obatalá
Yaô, bela menina… yaô (ôô), a esperança
Entregue nos braços de Yemanjá
Nas águas purificar… odoyá

Deusa do amor… mamãe Oxum
Vento sopra e traz a força de Oyá
Na pureza de Ewá, um novo amanhã
A coragem vem de Obá, o saber vem de Nanã

Eh mulher ‘feita’ no poder da criação
Das águas, do solo, da chama sagrada
Soprando os segredos da renovação
Com a bênção de Orum, clareou, clareou
Ritual, feitiçaria no aiyê um novo dia
Santuário que das cinzas ressurgiu
Natureza em harmonia então sorriu
Lá vem elas… guerreiras… poderosas yabás…
Carregada de axé
Nossa Morada renascerá

Yabá cantou, o chão estremeceu
O corpo arrepiou, a lágrima correu
Oh, mãe rainha, te ofereço na avenida
A Mocidade, emoção da minha vida”

É um samba muito lindo e ao final do texto acrescentamos o link do Youtube para você ouvir.

O ano de 2020, conforme estudos da numerologia sagrada, é um ano regido pelo quarto reino, o reino das águas, o reino das Yabás.

No Blog você encontra vários textos comentando sobre a numerologia sagrada e inclusive a analise para o ano de 2020.

Vamos aproveitar a letra deste samba-enredo para estudarmos as Yabás, ressaltando que este texto é muito simples, e não tem a pretensão de se aprofundar no assunto, é voltado para aqueles que estão chegando agora na umbanda.

Vamos falar um pouquinho de cada Yabá, mas antes vamos  esclarecer o significado do termo Yabá.

Yabá, Iabá, Iyabá ou Iyagbas cujo significado é Mãe Rainha, é o termo dado aos orixás femininos Yemanjá e Oxum, mas no Brasil esse termo acabou sendo utilizado para identificar todos os orixás femininos.

O termo correto deveria ser  Obirinxá (Orixá feminino).

O termo Iabá é dado a Yemanjá e Oxum, porque ambas estão intimamente ligadas a gestação, ao parto e aos cuidados da mãe com o seu filho e também por terem sido rainhas.

Na Umbanda usamos o termo Yabá para designar todos os orixás femininos como: Oxum, Oyá, Obá, Yewá, Iemanjá, Nanã e outras.

Na doutrina dos Sete Reinos Sagrados as Iabás pertencem ao reino das águas, o quarto reino, que é o reino da vida, das mães e de todas as entidades femininas,  a regente deste reino é mãe Iemanjá.

O terceiro reino também tem a energia feminina representada por Iansã, a senhora das ventanias e tempestades, é considerada uma orixá guerreira.

O samba-enredo da Mocidade fala de Iemanjá, Oxum, Oiá, Ewá, Obá e Nanã.

Nem todas estas Iabás são cultuadas no Núcleo Mata Verde, mas vamos comentar um pouquinho sobre cada uma delas, começando pela mãe Iemanjá.

Yemanjá

Yemanjá é conhecida como a Rainha do Mar e com certeza é uma das Iabás mais queridas da Umbanda, inclusive é o único orixá que possui uma imagem própria na religião de umbanda.

Yemanjá

Na África seu nome tem origem nos termos do idioma Yorubá “Yèyé Omo Ejá”, que significa mãe dos filhos-peixe.

No Brasil também é conhecida como: Dandalunda, Inaé, Ísis, Janaína, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Rainha do Mar e Sereia do Mar, etc…

Em Salvador e no Candomblé é comemorada no dia 02 de fevereiro, o dia de Iemanjá é marcado por celebrações, rituais e oferendas.

Na Umbanda, na maioria dos terreiros e principalmente em São Paulo é no dia 08 de dezembro.

Esta data é comemorada principalmente no estado de São Paulo, devido à relação ao dia de Nossa Senhora da Conceição.

Na doutrina dos Sete Reinos Sagrados Iemanjá tem como principais cores o azul claro, o branco e a prata.

Iemanjá é considerada a divindade das águas doces e salgadas. A Orixá está associada principalmente à Nossa Senhora dos Navegantes, mas também à outras Santas, como Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Piedade, e a própria Virgem Maria.

Como todos já sabem, no Núcleo Mata Verde, não fazemos uso do sincretismo religioso entre santos e orixás, mas vale deixar registrado, face a grande quantidade de terreiros que ainda fazem o sincretismo.

Oxum

Oxum, filha de Oxalá e Yemanjá, é a Orixá da beleza, doçura, meiguice, ternura e das águas doces.

É a divindade do amor, da suavidade, é a força espiritual que equilibra nossas emoções, e responsável pela fecundidade.

É também conhecida como Osúm, Osún ou Oxun, ela é a representação da sensibilidade, da delicadeza feminina e da paixão para motivar a essência da vida.

Mamãe Oxum vibra nas águas calmas e tranquilas, e é através de seu axé que ela tranquiliza os corações dos apaixonados.

É comemorada no dia 08 de dezembro, face ao sincretismo com Nossa Senhora da Conceição.

Nossa Senhora da Conceição

Na doutrina dos sete reinos sagrados sua cor é o azul escuro.

Seu reino é o quarto reino (das águas) junto com Yemanjá, mas tem grande ligação com o quinto reino (das matas) quando lembramos que é a orixá das águas doces, neste caso os  rios, riachos e fontes que cruzam as matas de Oxossi.

Dizem os mitos que Oxóssi se apaixonou por Oxum e tiveram um filho Logunedé que vive seis meses nas matas, caçando com Oxóssi e outros seis meses, vive nos rios pescando com Oxum.

Também tem forte ligação com o segundo reino (da terra), neste caso com as pedreiras formando as cachoeiras e quedas d’agua, dizem os mitos que Xangô se prostrou ao amor de Oxum.

A saudação à Oxum é: Ora Yê Yê Ô! Que significa: Olha por nós mãezinha!

Oiá (Iansã)

É a força da tempestade, dos ventos, o poder da natureza.

É também conhecida como Oiá, Iansã ou Yansã.

Seu nome tem o significado de “A mãe do Entardecer“, e foi dado à ela por Xangô, sua grande paixão; representa todas as mulheres, guerreiras e lutadoras.

Ela se diferencia das demais Iabás, com toda sua garra ela acompanha os mais fortes nas batalhas, não nasceu para ficar em casa cuidando do lar.

Contam os mitos que ela era a companheira de Ogum, e ajudava na forja, na fabricação de ferramentas de trabalho, pois ambos queriam colaborar na construção do mundo.

Mas  também trabalhava em armas para guerrear, pois os dois eram apaixonados por combate.

Iansã é a regente do terceiro reino (Ar) e tem fortes ligações com o primeiro reino (Ogum), o segundo reino (Xangô) e o sétimo reino (Obaluayê ), conforme os mitos Iansã se tornou a Senhora dos Eguns, sendo a única – além de Obaluayê – que tem poder sobre os mortos.

Iansã é comemorada no dia 04 de dezembro.

O sincretismo de Iansã relaciona-se à Santa Bárbara.

Diz a história da santa que ela acabou sendo morta pelo pai, que foi fulminado por um raio assim que a matou.

Aí encontra-se a principal relação da Santa com o orixá Oyá ou Iansã, tendo em vista que ela também é invocada nas tempestades.

Santa Barbará

Na doutrina dos sete reinos sagrados sua cor é o amarelo, rege o terceiro reino (Ar).

“Iansã, mãe e senhora dos ventos e tempestades, das horas aflitas e das almas perdidas.
Dona de todas as direções.
Operosa divindade em prol dos desígnios dos filhos de caídos sem norte e vontade.
Piedade para nós, criaturas que vivemos, à beira das tentações, dos abismos, alheios ao amor do pai Olorum.
Mãe, empresta-nos tua decisão e tua coragem, para o encontro do nosso próprio ser.
Daí-nos um roteiro de esperança e triunfo.
Erradicai a pobreza dos nossos sentimentos, orienta-nos para a verdade, dentro do caminho de devoção ao supremo doador.
Encoraja-nos senhora dos raios, para que nossa própria mente, siga uma só direção: amar a Olorum.
Êparrei Iansã!”

Ewá

Esta Iabá não é cultuada no Núcleo Mata Verde e raramente nos demais terreiros de umbanda.

Ewá ou Yewá é a Orixá da vidência e do sexto sentido.

Ela é filha de Oxalá e Nanã, irmã de Oxumaré e Obaluaiê.

É uma Iabá muito astuta e esperta, tem a serpente como seu símbolo e é conhecida por sua aparência exótica.

Ewá é também símbolo da beleza e sensualidade, mas nunca se entregou a nenhum homem, se conservando casta e se tornando protetora de tudo que é virgem e puro, desde o ser humano até mesmo as florestas e rios.

Simboliza a castidade, a pureza,  é regente da neblina e dos nevoeiros.

Na África é nome de um rio, algumas de suas lendas dizem que ela habita também regiões de cemitério, onde se sente em paz e consegue se manter afastada de Ifá e de Xangô.

O dia de sua comemoração é 13 de dezembro e é sincretizada com Santa Luzia.

Segundo a tradição da igreja católica, Santa Luzia foi uma jovem siciliana, venerada pelos católicos como virgem e mártir; que,  segundo conta-se, morreu por volta de 304 durante as perseguições de Diocleciano em Siracusa.

Santa Luzia

Obá

Também não é cultuada no Núcleo Mata Verde.

Obá está sempre com espada e escudo na mão, é a Orixá guerreira e de grande força, é a rainha do Rio Níger.

É senhora das águas doces revoltas, filha de Iemanjá e Oxalá.

Encontra-se sempre nas  quebras fortes de água doce, pororocas e quedas d’água.

Obá na Umbanda e no Candomblé é uma representação feminina cheia de energia, vida e força.

Aqui no Brasil o culto a Obá é muito disperso, em alguns locais ela é conhecida como um Xangô feminino, pois não há muita compreensão sobre o Orixá e suas lendas sempre estão rodeadas de mistérios.

Ela sempre aparece com a mão no ouvido ou com um tecido na cabeça, isso se deve ao fato de ter cortado a própria orelha como prova de amor a seu esposo Xangô.

É uma Orixá guerreira e a lenda de Obá conta que ela já derrotou Oxalá, Exu, Oxumaré, Iansã, Orunmilá, Oxossi e Omolú, sendo derrotada somente por Ogum com quem se casou.

O dia de Obá é 30 de maio, mesmo dia em que é comemorado o dia de Santa Joanna d’Arc, santa na qual ela é sincretizada.

Ambas são mulheres fortes, guerreiras que lutaram e defenderam o que acreditavam sem se importarem com a opressão e com as opiniões alheias.

Joana D’Arc

Nanã

Nanã é considerada um orixá velho, é a mãe velha, a avó.

Na doutrina dos sete reinos sagrados pertence ao quarto reino (água) que é o reino das mulheres, das mães, das iabás e também ao sétimo e último reino (almas) que é o reino dos velhos.

Rainha da lama, da qual se originou todo ser humano, esta Iabá é uma das mais respeitadas e também uma das mais temidas.

Nanã é responsável pelo portal entre a vida e a morte, pois ela limpa a mente dos espíritos desencarnados para que eles possam se livrar do peso que sofreram em sua jornada, reencarnando sem os rastros da vida anterior.

Por isso quando envelhecemos, ao decorrer dos anos começamos a perder nossa memória.

Ela também é conhecida como Nanã Buruku, Nanã Buru, Nanã Boroucou, Anamburucu, Nanamburucu ou Nanã Borodo.

O dia de Nanã é comemorado na mesma data de Santa Ana, ou Sant’Ana, em 26 de julho.

Por ser a Iabá mais velha, Nanã se sincretiza com esta Santa, a avó de Jesus Cristo.

Ambas simbolizam a força da natureza feminina na criação divina.

As principais cores de Nanã são: Anil, Lilás e Branco. Na maioria de suas representações, Nanã está sempre com alguma dessas cores em suas vestimentas ou adornos.

Na doutrina dos Sete Reinos Sagrados a cor de Nanã é o Lilás.

Sua saudação é Saluba Nanã!

Tem  gênio forte, e não aceita ser contrariada, não perdoa injustiças e falhas, mas como toda mãe é benevolente se preocupa com seus filhos e guarda muito amor.

Saravá Umbanda!

São Vicente, 29/02/2020

Manoel Lopes

Segue o vídeo:

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