Exu o Guardião do Templo
Exu o Guardião do Templo
Tenho recebido muitos e-mails solicitando textos e orientações sobre Exu.
Exu é uma linha de trabalho bastante complexa e polêmica, e devido a falta de informações e preconceitos que foram se formando durantes os anos, desperta muita curiosidade entre os umbandistas e demais estudiosos da Umbanda.
Na doutrina seguida pelo Núcleo Mata Verde, estudamos e também trabalhamos com a linha dos Exus.
Para aqueles que quiserem se aprofundar mais com o tema recomendamos o curso à distância “Exu o Guardião do Templo” que se encontra disponível na plataforma EAD do Núcleo Mata Verde – www.ead.mataverde.org
Pretendemos iniciar uma série de textos doutrinários sobre estes incansáveis trabalhadores que atuam na Umbanda.
Iremos apresentar a visão doutrinária do Núcleo Mata Verde, iremos aos poucos conhecer a atuação dos Exus nos Sete Reinos Sagrados.
No Núcleo Mata Verde chamamos os Exus de Guardiões.
Fazemos logo de início um alerta: É muito importante não misturarmos os conceitos da Umbanda, com os conceitos do Candomblé e nem da Quimbanda.
Iniciamos, portanto nosso estudo com algumas premissas:
1)Exu na doutrina seguida pelo Núcleo Mata Verde é considerado um Guardião.
2)Existem visões totalmente diferentes entre os cultos de Umbanda, Quimbanda e Candomblé.
3)Muito diferente é o conceito de Exu, espírito trabalhador da Umbanda e da Quimbanda, do Exu Orixá.
4)Na Umbanda trabalhamos com a linha de Exu, ou seja, espíritos que atuam e possuem trabalho bem definido dentro da religião de Umbanda
5)Exu no Candomblé é um Orixá, idêntico aos demais orixás, irmão de Ogum e Oxossi. Podem ser entendidos como forças universais.
6)Exu na Quimbanda tem um papel bem diferente do Exu na Umbanda.
Para nós tanto faz chamarmos de Quimbanda ou Kimbanda.
Neste caso estamos nos referindo a outro tipo de culto, diferente da Umbanda e que não segue a lei da Umbanda, um culto onde não existem “limites” morais para os “trabalhos espirituais” realizados.
Iremos aos poucos elucidando cada uma das questões apresentadas acima.
Hoje quero iniciar esta série de textos com um mito de Oxalá e Exu.
Este mito pode ser encontrado no livro “Mitologia dos Orixás” de Reginaldo Prandi, às fls. 40.
Segue abaixo o mito na íntegra.
Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas.
Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, exu se distraia,
vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas ali ficavam pouco.
Quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para fica ali e não deixar passar quem não trouxesse
uma oferenda a Oxalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo
recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exu coletava os ebós para Oxalá.
Exu recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exu fazia bem o seu trabalho
e Oxalá decidiu recompensá-lo.
Assim, quem viesse à casa de Oxalá
teria que pagar também alguma coisa a Exu.
Quem estivesse voltando da casa de Oxalá
também pagaria alguma coisa a Exu.
Exu mantinha-se sempre a postos
guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó, poderoso porrete,
afastava os indesejáveis
e punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exu trabalhava demais e fez ali sua casa,
ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
sem pagar alguma coisa a Exu.
Vamos reinterpretar este mito, através de uma visão umbandista.
Naturalmente que iremos nos referir a linha dos Exus, espíritos e não ao Orixá Exu da Nação.
Iremos destacar alguns trechos do mito acima apresentado:
“Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.”
Entendemos que todos os Exus que trabalham em Terreiros de Umbanda, possuem compromissos sérios com a lei da Umbanda. São trabalhadores da espiritualidade, chamamos estes exus de Exus de Lei.
Nem sempre estes espíritos foram Exus de Lei, existiu uma época em que eram espíritos que estavam perdidos, sem nenhum compromisso com o bem, com a lei divina, com a evolução e com a espiritualidade. É isso o que diz este trecho “Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro, Exu não tinha missão”.
Vamos continuar com a leitura:
“Então um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, exu se distraia,
vendo o velho fabricando os seres humanos.”
Aqui vamos, por analogia, chamar de Casa de Oxalá o Terreiro de Umbanda.
Todos sabem que praticamente não existe Terreiro de Umbanda que não tenha no alto, em cima do Congá uma imagem de Oxalá.
Oxalá na Umbanda é sincretizado com Jesus, e com certeza é o principal orixá cultuado na Umbanda.
Podemos afirmar que todo Terreiro de Umbanda é considerado uma Casa de Oxalá, uma casa de caridade, de bênçãos, de amor e espiritualidade.
Voltando ao texto do mito, entendemos então que estes espíritos que vagavam pelo mundo, sem rumo, se aproximaram do Terreiro de Umbanda, e aqui podemos estender o conceito de Terreiro para a própria Umbanda.
Estes espíritos vieram para a Umbanda, e passaram a observar o que se fazia dentro dos Terreiros.
Continuando a leitura do texto:
“Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas ali ficavam pouco.
Quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.”
Muito são os espíritos que se aproximam dos Terreiros de Umbanda, se aproximam da Lei de Umbanda, mas nada aprendem e se afastam.
Continuam a vagar sem rumo pelo espaço.
Exu por sua vez continuou no Terreiro, observou, prestou atenção, teve paciência, estudou, aprendeu com o Mestre Oxalá.
“Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo.
Um dia Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa.”
Estes espíritos que ficaram, que observavam, que estudavam, que prestavam atenção e que adquiriram o conhecimento maior, ficaram nos Terreiros.
Foi então lhes dado a missão de cuidarem das encruzilhadas, por onde passavam todas as pessoas que se dirigiam a Casa de Oxalá.
São as tronqueiras existentes em todos os Terreiros e que ficam exatamente na entrada do Terreiro, lugar por onde deve passar todos os que entram e todos os que saem.
“Exu mantinha-se sempre a postos
guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó, poderoso porrete,
afastava os indesejáveis
e punia quem tentasse burlar sua vigilância.”
Aqui verificamos qual a função do Exu da Umbanda, que é a da proteção ao Terreiro, a Casa de Oxalá.
São os Exus os Guardiões do Templo, os Guardiões da Lei da Umbanda.
“Exu trabalhava demais e fez ali sua casa,
ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
sem pagar alguma coisa a Exu.”
Verifica-se no texto que os Exus passaram a ser os grandes trabalhadores da Umbanda e passaram a ter um papel muito importante na Umbanda.
Finaliza o mito afirmando que Exu ficou sendo o responsável por todas as encruzilhadas.
Finalizamos este primeiro texto destacando algumas características importantes do Exu de Lei, o Guardião da Umbanda:
1) Um dia foi um espírito sem rumo, que provavelmente trabalhava negativamente, ou era dominado por espíritos negativos.
2) Em um determinado momento se aproximaram da Lei da Umbanda e mudaram sua forma de pensar e agir, de “vagabundos” passaram a ser os maiores trabalhadores.
3) Foi designado a estes espíritos a função de tomarem conta da Casa de Oxalá, ou seja, tomarem conta do Terreiro de Umbanda, da Lei de Umbanda.
4) São espíritos fortes, e quando necessário, podem usar de meios duros para afastarem e punirem os indesejáveis.
5) São os espíritos responsáveis por todas as encruzilhadas.
Encerramos aqui esta rápida reflexão sobre o Guardião, nos próximos textos estaremos aprofundando as questões abordadas acima.
Saravá Exu das Sete Encruzilhadas!
Saravá Umbanda!
São Vicente, 23/07/2013
Manoel Lopes – Dirigente do Núcleo Mata Verde