O domínio das trevas – COVID-19 (Parte 2)
Conforme tinha combinado com o João da porteira, fui aguardá-lo na sombra da mangueira, fiquei sentado esperando que ele chegasse.
O entardecer no interior é muito lindo, faz a gente refletir sobre a vida, nossos valores e o que estamos fazendo da nossa vida, parecia que o tempo tinha parado.
Será que valia a pena tanto estresse na cidade grande?
Havia muito tempo que eu não descansava um pouco e deixava meus pensamentos vagarem soltos, estava parado embaixo daquela enorme arvore olhando aquela paisagem linda e uma sensação de déjà-vu envolveu minha alma, tive a sensação de ter vivido aquele momento centenas de vezes.
O Sol era uma enorme bola alaranjada, quase tocando o chão no horizonte.
As poucas nuvens formavam enormes cachos brancos e se misturavam com o céu vermelho, manchado por nuances do azul.
Minha alma ia ao longe, apreciando as plantações daquela região, predominavam laranjeiras e cana de açúcar.
Em alguns lugares podiam-se ver algumas poucas arvores preservadas e bem ao longe uma pequena casinha esquecida no tempo.
A sombra muito agradável daquela enorme árvore, o perfume das mangas, misturado ao cheiro forte da terra úmida, me integravam ao ambiente. Tinha a sensação que meus pés tinham criados raízes naquela terra vermelha, de onde sugavam uma vitalidade espantosa.
Estava integrado totalmente ao ambiente, ao céu, ao ar e a terra. Eu estava vivo e feliz, essa era a sensação que me envolvia.
Num repente, caminhando na estrada de terra batida, percebi a silhueta de um homem, magro e alto, que estava vindo em minha direção.
Era o João da porteira.
— Boa tarde sinhô!
— Boa tarde João, como vai?
— Me desculpe a demora, precisei ir até a cidade comprar uns apetrechos, umas ferramentas pra cuidá da terra.
— Sem nenhum problema João, fiquei apreciando a beleza da região. Fiquei notando as plantações a perder de vista.
— Sinhô! Aqui já teve muita coisa boa plantada, agora só restou laranja e esta praga de cana, que mata toda a terra.
— Eu fico muito triste com isso, mas é o desenvolvimento, não é?
— É João, a vida mudou muito, os tempos são outros.
— Pois é?
— João, vamos continuar aquela conversa sobre o Guardião Zé dos Caminhos.
— Vamos sim, o senhor lembra de onde paramos?
— Você estava me contando sobre a conversa que o Guardião Zé dos Caminhos teve com vocês, lá no Terreiro da Dona Sebastiana.
— Pois então, ele estava falando sobre esta praga deste vírus, tinha falado sobre a presença da Virgem Maria aqui na Terra.
—Isso João, você estava comentando que as Iabás, diversos espíritos e Santas estavam iniciando um processo de mudança aqui no planeta Terra. Eu só não entendi o que a presença das Santas tem haver com a doença? Com a COVID?
— Segundo o Guardião, a partir de agora, nosso planeta será guiado e cuidado com mais atenção por estes espíritos abençoados, os espíritos que atuam na quarta linha da umbanda, a linha das águas, linha das Senhoras, a linha das mães.
— Mas isso é muito bom, se for verdade. Mas não estou entendendo a ligação com a pandemia?
— Calma! Eu vou contar para o senhor toda a história.
— Tudo estava preparado para o ano novo, no primeiro dia do ano, nosso planeta já estaria envolvido pelas bênçãos de todos estes seres de luz e eles estariam trabalhando nos próximos dez anos para equilibrar a atmosfera psíquica da humanidade. Segundo o Guardião, todos os comandos espirituais, do planeta Terra, já tinham recebido as informações necessárias e estavam aguardando com muita alegria e esperança esta nova fase planetária.
Percebi que o João da Porteira estava se empolgando e cada vez mais deixava suas palavras fluírem com mais facilidade. Ele tinha muita confiança em mim, e acredito que não existia, naquele lugarejo, muitas pessoas para ele contar estas histórias.
Deixei que ele falasse a vontade…
— O Guardião falou que estas falanges espirituais iriam cuidar dos desamparados, do corpo e da alma, vibrariam sobre a humanidade sentimentos de amor, carinho, respeito, benevolência, calma, equilíbrio, respeito à vida, preservação da saúde e da natureza, e assim por diante — o senhor conhece bem quais são as vibrações deste povo d’água.
— Sim, eu sei. A beleza e delicadeza de Oxum, o amor, carinho e atenção da grande mãe Iemanjá.
— Então, todas estas forças espirituais começaram a chegar, na dimensão espiritual do nosso planeta, ao final do ano passado e início deste ano. Segundo o Guardião, seria o início de uma revolução nos costumes do nosso planeta.
— Foi então que uma coisa terrível aconteceu.
— João me conta, então o que foi que aconteceu?
— O Senhor sabe que nosso planeta é habitado e controlado por muitos espíritos negativos, atrasados, das trevas. Não sabe?
— Sim, eu sei. Muitos espíritos atrasados encarnam aqui na Terra para poderem crescer espiritualmente, evoluírem. Entre todos que encarnam existem alguns que ainda estão muito atrasados.
— Nosso planeta pode ser considerado uma prisão, uma escola e um hospital espiritual.
— Então, o Guardião continuou contando, que existem muitas falanges espirituais negativas que comandam e exercem seus poderes sobre a humanidade.
— Este controle é exercido sobre as pessoas que possuem algum poder na sociedade, entre eles: os políticos, empresários, traficantes etc…
— Estas forças trevosas exercem o controle sobre a produção e venda de armas, drogas, bebidas, tráfico de pessoas, prostituição, pornografia e disse o Guardião, que atualmente até sobre algumas igrejas.
— Diz o Guardião Zé dos Caminhos, que ele tem visto muita coisa, pelos caminhos que percorre.
— Estas forças trevosas dominam os meios de comunicação, alguns jornais, rádios e TV.
— Diz o Zé dos Caminhos, que até essa coisa nova, chamada Internet, eles utilizam para divulgarem ideias que corrompem os mais novos, gerando o ódio entre as pessoas, entre familiares, entre os países e até a própria destruição da mente das pessoas.Incitam o consumo de drogas, suicídio, a prática sexual de crianças e jovens, sem nenhum amor ou compromisso. Eles geram a ilusão, estimulam o excesso de vaidade e do orgulho, querem destruir o conceito de família e amor fraternal, para em seguida destruírem estas almas encarnadas, deixarem elas perdidas, depressivas, cegas, sem rumo e desta forma poderem dominá-las e escravizá-las.
Eu estava atento e surpreso, prestando atenção em tudo que o João da porteira falava. É como se ele estivesse em transe. As palavras saiam com uma facilidade incrível da sua boca, ele não parava um minuto para concatenar as ideias, eu estava admirado com tudo aquilo que ouvia.
Ele era um homem simples e religioso, tinha um coração enorme, uma preocupação muito grande com as pessoas. Ele sempre afirmava: Sou um homem de fé! Sou Umbandista!
E o João continuava a falar, quando interrompi.
— Estes espíritos malignos, querem escravizar as consciências — os espíritos — que estão encarnados. Na verdade não querem perder o poder que possuem sobre milhões de espíritos, encarnados e desencarnados, que dominam há milhares de anos.
— Isso sinhô! Foi isso que o Guardião explicou. Não querem perder o domínio sobre estas mentes e corações, pois é aí que está o poder deles.
— Eles não querem que estes espíritos encarnados se libertem e que sejam livres, que tenham consciência sobre o real significado da vida, do amor e da liberdade. Eles querem que todos estes espíritos fiquem presos em seu casulo e que nunca alcem voos libertadores, assim como fazem as borboletas. Eles querem é manter, para sempre, estes espíritos apegados à matéria, presos aos vícios, paixões e ao sofrimento eterno.
— Foi desta forma que o Guardião falou, naquela noite, para todos que estavam lá na Dona Sebastiana.
— Puxa vida João, este Guardião Zé dos Caminhos, sabe muita coisa. Quem sabe, um dia, vou até lá, no Terreiro da Dona Sebastiana, para conversar com ele.
— Vai sim, ele gosta muito de conversar e receber visitas.
— João, devido ao adiantado da hora preciso, ir embora. Mas agora estou mais curioso para saber mais sobre esta história da COVID.
— Amanhã continuamos nossa prosa.
— Até mais tarde então João. Bom descanso.
São Vicente, 10/07/2020
Manoel Lopes
Obs.:Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.